Discipulado no Século XXI
Tendências que Afetam o Discipulado no Século XXI
1. Antropocentrismo e Consumismo Religioso:
A igreja passa a existir para satisfazer as
necessidades e desejos das pessoas (o "consumidor de fé"),
em vez de se dedicar primariamente a fazer a vontade de Deus.
Deus é, por vezes, visto como um "agente do
bem-estar humano", onde a busca é por benefícios pessoais (prosperidade,
sucesso) em detrimento da transformação de caráter e da
renúncia ensinada por Cristo (que são centrais no discipulado).
O foco se desloca da vida de serviço e entrega para
o consumo de eventos, pregações motivacionais e estruturas.
2. Sincretismo e Pragmatismo:
Adoção de modelos e práticas mais ligados a
uma visão empresarial ou de entretenimento (pragmatismo),
buscando o "sucesso" medido por números (público, finanças) em vez da
profundidade e fidelidade bíblica.
Incorporação de doutrinas e atitudes
estranhas às Escrituras (sincretismo), muitas vezes com o fim de
manipular ou centralizar poder. Isso resulta em um discipulado falho e
doutrinas errôneas.
3. Ênfase Excessiva no Evento e na Celebração:
O culto e as grandes
reuniões tornam-se o foco principal, criando uma mentalidade de que a
vida cristã se resume a assistir a esses eventos.
A experiência em comunidade e
o caminhar lado a lado (essência do discipulado um-a-um ou em
pequenos grupos) são substituídos pela experiência individualizada no
meio da multidão.
4. Crise de Liderança e Falta de Preparação:
A falta de preparo bíblico e teológico adequado
em líderes leva à confiança em sistemas seculares para a
gestão da igreja, introduzindo um pensamento que desvirtua os valores cristãos.
O foco na popularidade e performance (amplificado
pelas redes sociais) pode levar líderes (especialmente os jovens) ao
esgotamento e a diluir a mensagem para "agradar o público".
5. Individualismo e Desinteresse pela Missão
Integral:
Os cristãos buscam seus próprios interesses
sectários em vez dos interesses do Corpo de Cristo.
A vida de fé torna-se mais formal do
que experimental no dia a dia.
Uma porcentagem significativa de membros não
se sente chamada para evangelizar/discipular por não ter sido treinada
para isso.
7. A Terceirização do Discipulado para os
Púlpitos
A "terceirização do discipulado para os
púlpitos" é a tendência de ver a pregação no culto dominical como
a única ou principal ferramenta de formação do cristão.
Embora não haja uma data única e definida para o
"início" desse fenômeno, ele é o resultado de um processo
histórico que se acelerou significativamente. Podemos apontar seu
crescimento a partir do período pós-Segunda Guerra Mundial e, mais
intensamente, na segunda metade do século XX, devido a fatores como:
a) Crescimento e Complexidade da Igreja: Com
o aumento exponencial de membros e a urbanização, a intimidade e o
acompanhamento pessoal (modelo de Jesus) tornaram-se mais difíceis de replicar
em larga escala.
b) Influência de Modelos de Megaigrejas: O
foco em grandes celebrações e na figura do pastor-pregador como o principal
comunicador e formador da fé ganhou força. A pregação de alta qualidade, embora
essencial, começou a ser vista como a "entrega" completa do
discipulado.
c) Profissionalização do Ministério: O
pastor passou a ser visto como o único "especialista" responsável
por toda a formação teológica e espiritual, desresponsabilizando o membro comum
da tarefa bíblica de discipular (cf. Mateus 28:19-20).
d) Enfraquecimento da Comunidade Intencional: A
ênfase na participação passiva no culto em detrimento da vida em pequenos
grupos, da mentoria e do discipulado um-a-um,
que exigem maior tempo e envolvimento pessoal.
Em essência, a terceirização ocorreu quando a
igreja trocou a relação discipuladora intencional de Jesus (que
passava a maior parte do tempo com Seus discípulos, ensinando-os vivendo com
eles) por um modelo de transmissão de conteúdo primariamente
através de sermões.
Espero que esta análise contribua para a sua
reflexão!

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