O Batismo pelo Espírito Santo: Uma Análise Bíblica e a Perspectiva dos Princípios Batista.
O Batismo pelo Espírito Santo é um dos temas mais debatidos na teologia cristã. Para as igrejas batistas, a compreensão desse conceito está firmemente enraizada nas Sagradas Escrituras e nos princípios que enfatizam a salvação pela graça, a soberania de Deus e a suficiência de Cristo.
1. A Visão Bíblica Fundamental
A Bíblia menciona o batismo pelo Espírito Santo em passagens-chave. João
Batista aponta para uma obra futura de Jesus, declarando: "Eu vos
batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais
poderoso do que eu... ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo"
(Mateus 3:11). Jesus, por sua vez, instrui seus discípulos: "Porque, na
verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo,
não muito depois destes dias" (Atos 1:5).
A passagem mais crucial para a teologia batista, contudo, é 1
Coríntios 12:13: "Pois, em um só Espírito, todos nós fomos
batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres;
e a todos nós foi dado beber de um só Espírito." Essa passagem não
descreve uma experiência posterior à conversão, mas o próprio ato de ser unido
a Cristo e à Sua igreja por meio da obra do Espírito Santo no momento da
salvação.
2. Batismo no Espírito Santo e
Conversão: Uma Ligação Inseparável
A teologia batista entende que o batismo pelo Espírito Santo não é uma
segunda experiência, subsequente à conversão, mas a mesma experiência da
salvação. Todo aquele que genuinamente se arrepende e crê em Jesus Cristo
é, no momento da sua fé, batizado pelo Espírito Santo.
Essa perspectiva se baseia na
seguinte lógica:
- O Espírito habita em todo crente: Paulo afirma em Romanos 8:9 que "se alguém não tem o
     Espírito de Cristo, esse tal não é dele." A posse do Espírito
     Santo é uma marca de salvação, não de uma experiência secundária.
- União com Cristo: O
     batismo no Espírito é o processo pelo qual o crente é incorporado ao
     "corpo de Cristo". Não é possível estar em Cristo sem ter essa
     união, que é mediada pelo Espírito.
Assim, a experiência da regeneração (novo nascimento) e o batismo
pelo Espírito são faces da mesma moeda. O arrependimento e a fé levam à
regeneração, que é a obra do Espírito que, ao mesmo tempo, insere o crente no
corpo de Cristo.
O Falar em Línguas: Na
Perspectiva Batista
Ao abordar o tema do falar em línguas (glossolalia), a perspectiva
batista o faz a partir de uma cuidadosa exegese bíblica, buscando compreender
sua função e propósito no contexto do Novo Testamento.
1. A Natureza do Falar em Línguas
A palavra grega para "língua" é glossa. A Bíblia
descreve essa manifestação de duas formas:
- Línguas Humanas (Atos 2:4-11): No Dia de Pentecostes, o falar em línguas foi um sinal
     missionário e evangelístico. Os apóstolos falavam em idiomas humanos
     conhecidos por pessoas de diferentes nações, que entendiam perfeitamente a
     mensagem.
- Línguas de Oração (1 Coríntios 14:2): Na igreja de Corinto, o dom era praticado de
     uma forma diferente, como uma língua que "ninguém a entende".
     Paulo, por isso, enfatiza que essa manifestação, se não interpretada, não
     edifica a congregação.
2. Refutação do Falar em Línguas
como Sinal de Batismo no Espírito
A teologia batista refuta a ideia de que o falar em línguas é o sinal
inicial do Batismo no Espírito Santo com base nos seguintes pontos:
- Ausência nas Epístolas:
     Nenhum dos livros do Novo Testamento, ao explicar a salvação ou a vida
     cristã (como Romanos ou Efésios), menciona o falar em línguas como uma
     evidência do Batismo no Espírito. As epístolas focam no fruto do
     Espírito (Gálatas 5:22-23) e na santificação como verdadeiras
     evidências.
- Nem todos falam em línguas (1 Coríntios 12:30): Paulo faz perguntas retóricas como "Porventura,
     falam todos em línguas?", com uma resposta implícita
     "não". Isso demonstra que o dom de línguas é concedido apenas a
     alguns, e não a todos os crentes.
- Propósito dos Sinais:
     Sinais milagrosos foram relevantes no período apostólico para autenticar a
     mensagem dos apóstolos (Hebreus 2:3-4) e demonstrar que o evangelho havia
     chegado aos gentios. Com a finalização do cânon bíblico, a ênfase mudou
     para a edificação do corpo de Cristo através da Palavra.
O Espírito Santo e o Batismo no Espírito Santo na Declaração Doutrinária
da Convenção Batista Brasileira
A Declaração
Doutrinária da Convenção Batista Brasileira (CBB) e os princípios batistas
servem como um guia para a compreensão da fé e prática nas igrejas filiadas. No
que diz respeito ao Espírito Santo e, mais especificamente, ao Batismo
no Espírito Santo, a posição é clara e alinhada à teologia batista conservadora.
1. O Espírito Santo: Pessoa Divina e Sua Obra
A
Declaração Doutrinária da CBB afirma a divindade e a personalidade do Espírito
Santo. Ele é a terceira pessoa da Trindade, co-eterno, co-igual e
co-substancial com o Pai e o Filho. Sua obra é fundamental em toda a história
da redenção.
- Na Salvação: O Espírito Santo é quem realiza a regeneração
     (novo nascimento), convencendo o pecador do pecado, da justiça e do juízo.
     Ele habita em todo crente, selando-o para o dia da redenção e dando-lhe
     poder para viver uma vida santa.
- Na Igreja: O Espírito Santo capacita os crentes com dons
     espirituais para a edificação do corpo de Cristo. Ele inspira a adoração,
     dirige o testemunho e fortalece a comunhão entre os irmãos.
2. O Batismo no Espírito Santo: A Posição Batista
A
Declaração Doutrinária da CBB, embora não use o termo "Batismo no Espírito
Santo" em uma seção exclusiva, aborda o conceito de forma implícita e
coerente com a teologia bíblica batista. A interpretação é baseada em 1
Coríntios 12:13, que é a passagem-chave para entender o tema.
- Não é uma experiência
     secundária: A visão batista refuta a
     ideia de que o Batismo no Espírito Santo é uma segunda obra da graça,
     subsequente à salvação. A Declaração Doutrinária, ao falar da regeneração,
     pressupõe que a habitação e a obra do Espírito ocorrem no momento da
     conversão.
- União com Cristo e com o
     Corpo: O batismo no Espírito Santo
     é entendido como o ato pelo qual o crente é inserido no corpo de Cristo.
     Todo aquele que se arrepende e crê é, simultaneamente, batizado pelo
     Espírito Santo e unido a Cristo e a todos os outros crentes.
Em
resumo, a CBB e os princípios batistas ensinam que a posse do Espírito Santo é
uma marca de salvação, e a sua atuação não depende de uma experiência
subsequente.
3. Falar em Línguas e os Sinais Espirituais
A
Declaração Doutrinária não estabelece o falar em línguas como uma evidência
necessária do Batismo no Espírito Santo. A posição batista, alinhada à
Declaração, é a seguinte:
- O propósito dos dons: Os dons são para a edificação da igreja
     e não para a exaltação individual ou como um sinal de espiritualidade
     superior.
- Não é uma evidência
     obrigatória: Os textos bíblicos (especialmente
     1 Coríntios 12:30) mostram que nem todos os crentes recebem o dom
     de línguas. Portanto, se o Batismo no Espírito Santo é para todos os
     crentes, e nem todos falam em línguas, então esse dom não pode ser a
     evidência do batismo.
- A evidência da presença do
     Espírito: A verdadeira evidência da
     presença do Espírito Santo na vida do crente é o fruto do Espírito
     (Gálatas 5:22-23) e o crescimento em santidade.
Protanto. A Declaração Doutrinária da
Convenção Batista Brasileira, em harmonia com os Princípios Batistas,
apresenta uma teologia do Espírito Santo centrada na sua obra na salvação e na
edificação da igreja. O Batismo no Espírito Santo é o ato de união com
Cristo, que ocorre no momento da conversão, e não uma experiência posterior. As
manifestações de sinais, como o falar em línguas, são vistas como dons
espirituais, mas não são consideradas um sinal obrigatório do batismo ou da
salvação.
Para os batistas, a vida no Espírito é marcada pela
obediência à Palavra, pelo crescimento em caráter cristão e pelo serviço no
corpo de Cristo, de forma a cumprir a Grande Comissão de fazer discípulos.
Conclusão Geral e
Visão de Teólogos Batistas Conservadores
A visão batista
sobre o Batismo pelo Espírito Santo e o falar em línguas é que
ambos estão intrinsecamente ligados à obra de Deus na salvação. O Batismo no
Espírito é o ato soberano que une o crente a Cristo no momento da sua fé, enquanto
o falar em línguas é um dom que, como outros, tem o propósito de edificar a
igreja, mas não é um sinal externo obrigatório para todos. Essa perspectiva é
defendida pela Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira e
pelos Princípios Batistas, que firmam a fé no fundamento bíblico da
regeneração e da suficiência da obra de Cristo.
Essa visão é corroborada por teólogos batistas
conservadores:
·        
John
MacArthur: Um teólogo batista
conservador contemporâneo, MacArthur é um crítico veemente da visão
carismática. Ele argumenta que o Batismo no Espírito Santo é o ato da salvação,
e a ideia de um "segundo batismo" com o propósito de
"capacitar" é uma distorção bíblica. Ele defende que o falar em
línguas foi um dom apostólico que cessou com a conclusão do cânon. Ele afirma: "O
batismo no Espírito Santo é a união de todos os crentes com Cristo e uns com os
outros, no momento da salvação."
·        
Wayne Grudem: Em sua obra Teologia Sistemática, Grudem, que
é de tradição batista reformada, defende o cessacionismo (a crença de que os
dons de sinal, como o de línguas, cessaram) e explica o batismo no Espírito
como um evento único na conversão. Ele destaca que a experiência pentecostal em
Atos foi uma manifestação única para marcar o início da Igreja, mas não um padrão
repetível para todos os crentes.
Em resumo, a
teologia batista conservadora busca ancorar a experiência do crente na
suficiência da obra de Cristo e na habitação contínua do Espírito Santo. A
prioridade não é a busca por uma experiência subsequente, mas o viver diário de
uma vida cheia do Espírito, que se manifesta em obediência à Palavra de Deus
e no fruto do Espírito.
Pr. Ozéas DG Silva
Missão Multiplique Vida

 
 
 
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